quarta-feira, 30 de outubro de 2013

Obituário

Da tua carne crua fiz poesia
Latente, pulsante, fervente nessa madrugada fria
Do aroma fresco de um expresso
que sobra encostado no balcão da cozinha
Ao corte dolorido de uma lâmina esguia
que faz em pedaços os traços inertes da minha prosa monotonia.

Fiz da minha dor um canto versado em letra e melodia
Interrompendo o sono de todos os meus vizinhos bonagente
Estes pobres coitados que nada tem a ver com a minha insônia
- ou com a minha hipocrisia.

Acendo um cigarro para ver queimar a pólvora
E levo-o à boca feito o veneno que me faz inerte
Queimando em brasa e apagando o vestígio sangrento que ainda verte

Adormeço feito um infantil
Que entre chamas desfigura, um peso inútil
Em carta peço que uma lápide sem nome me eternize feito um desafortunado imbecil:
O que jaz aqui são apenas os restos imortais de uma dor nada gentil
- de um amor nada sutil.

Vigilante noturno

Vagueia sozinho pela noite
Um basbaque itinerante
Que bêbado de vinho
Estarrou-se numa fonte.

Olha lá aquele babaca itinerante
De molho na fonte
Olhar distante
Preso em sua muda realidade ressonante.

Fez-se o primeiro raio de sol nascente
Que pela gola ergueu o bastardo itinerante
Com o brilho, seguiu errante
Olha lá, olha só

Desiludido, torto e deslumbrante
Olha lá, olha só
É só mais um destroçado amante.

terça-feira, 29 de outubro de 2013

Do que guardei

Tudo isso é pra ti, que da minha vida lentamente se esvai
Deixando em outras peles o aroma de amora que me pertencera outrora.
Tu, assim selvagem e mestiça, que languidamente se vai
Depositando em outras bocas a saliva que dentro ainda me devora.

Fostes minha mãe, minha filha e meu pai
Marcando no peito o apreço daquele começo que não mais atrai.
Na carne, cravada a sentença de um algoz hostil
Um dia, bem sei, vitimado por meu prazer egoísta e vil.

Juro que não lhe escrevo para retomar o posto
Talhado em marcas de desgosto, teu rosto.
Escrevo para lhe contar que foram tuas todas as minhas poesias
Pelo que de belo eu ainda trago e não te dei
Tu, a mais bela das mestiças que um dia já amei.

sexta-feira, 25 de outubro de 2013

Please, please, PLEASE! - She said. - Make me feel something. Anything.

quarta-feira, 23 de outubro de 2013

Não tem mais poesia, só prosa. 


- Sabe, eu amava aquele teu sorriso.
- Qual?
- Aquele que você tinha quando ainda acreditava em contos de fadas. Quando a vida ainda não tinha te maltratado tanto.
- Você quer dizer, quando a vida ainda não tinha me feito crescer na marra?
- Crescer é aprender a sorrir mesmo estando com vontade de chorar?
- É. Acho que é. - Abre um sorriso e, sem derramar uma só lágrima, afasta-se lentamente até virar a esquina.

A meia luz ela pensa: existe alguma coisa que possa acabar com essa dor agora? E continua paralisada. Os olhos passeiam por dezenas de abas com informações vazias e repetitivas. A pele reclama de solidão, os músculos latejam de cansaço. A mente vagueia sem rumo, o peito dói. Será que existe qualquer coisa que acabe com essa dor agora? A coluna incomoda, o corpo não se encaixa na alma. As madrugadas sempre foram as horas mais difíceis. Sei que você sabe disso. A insônia tamborila com os dedos, desritmando o pulsar de um coração inquieto, desorientado. Já é demais para expressar. Penso em um chá. Sem chá. A penumbra revela uma realidade sem cor. Sem cor. Incolor, insana, sem sentido. Sem jamais ter tido. Sido. Estática, apática. Já é demais. Já é acelerado demais, lento demais, descompassado demais, profundo demais, viceral demais, doloroso demais, vazio demais. Demais. Dê-me mais. Mais nada. De nada. Não é nada demais.

terça-feira, 22 de outubro de 2013

segunda-feira, 7 de outubro de 2013

domingo, 6 de outubro de 2013

Rock n Blues

Por um amor que goste de Rock (n Blues).



Chega em casa e bota um som para tocar.
A agulha no disco. A boca na minha.

Que a tua voz seja suja.
Timbre rouco. Palavras sem pudor.

Cantarola uma canção ao pé do ouvido.
Enrola em mim.

Que a tua pele quente me faça ferver.
Que a tua marca marque o meu lugar.
Que a tua mente me feche em fetiches.

Que a tua força me conduza sem esforços.
Conduza. Com força.

Que o teu ritmo me acelere sem pausas.
Sem pausas, os prazeres. As pernas.

Que o teu fogo não apague nem com todo o meu suor.
Que só a minha taquicardia te roube o ar.
Que as marcas no teu couro fervido não cicatrizem tão cedo.

Desperta.
Silêncio.

Levanta.
Desvira para o lado A.

Que o lado B seja sempre o teu preferido.

sábado, 5 de outubro de 2013


#PEIXE!


#2am

Para ser lido ao som de Passenger - Let her go.



Faz muito tempo que eu não escrevo e acredito que você saiba disso. Não que eu tenha te falado, mas tenho um palpite forte de que você ainda passa por aqui de vez em quando e ainda sabe que é aqui que eu me sinto a vontade para sentar e escrever.

Eu acabo de ouvir o primeiro acorde de uma música qualquer e ele me lembrou você. Me soou como um toque de celular tão qualquer quanto a canção, até que eu lembrei que já não há mais como te ligar. A partir daí deixou de ser sensação qualquer e foi dor mansinha. Dor de cansaço. Dor de impossibilidade, de avesso, de saudade, de não ser, de maré baixa. Foi, e é, assim, doendo latente as duas horas da matina.

Sei que seria insano te ligar as duas da madrugada sem ter nada de extraordinário para dizer, mas é que houve uma época em que eu podia te ligar e eu te ligava mesmo que você estivesse ocupada ou triste ou trabalhando ou lendo ou comendo ou dormindo ou e nem importava. Eu não precisava ouvir a tua voz, bastava ouvir o arfar dos teus pulmões, o ar que chiava de leve em meu ouvido quando saia quente pelas tuas narinas. Era quente porque nos meus dias de sorte eu dormia com o teu nariz grudado na minha nuca, me arrancando arrepios. Era quente; tu era quente, eu me lembro.

E você me atendia e ficava ali só porque eu queria ouvir nem que fosse os sinais do teu silêncio enquanto eu me doía inteirinha de distância. E, meu bem, eu era tão criança que mesmo te tendo tão perto eu me doía inteirinha. E você não me entendia e quebrava o silêncio pra dizer que aquele não era motivo de chororô, que estaríamos juntas dentro de alguns dias e que era uma promessa. E aí eu sorria. Sempre dava pra contar o número de dias numa mão só. E dava pra contar mesmo numa mão pequenininha como a minha, porque era uma distância pequenininha e um tempo pequenininho. E eu sorria, mas mesmo assim eu me doía, dá pra acreditar?

Aqui faz frio, eu ouvi uma música qualquer e já não há mais como te ligar. Antes era quente, antes a tua respiração me esquentava porque eu podia te ligar.

É madrugada e agora eu só faço imaginar. Talvez você esteja sozinha, talvez acompanhada. Talvez o teu nariz esquente o pescoço de outra. Eu sempre gostei tanto do teu nariz. Talvez. Se for assim, eu espero que a pele dela arrepie inteirinha como a minha arrepiava. E se não hoje, talvez amanhã.

Talvez amanhã haja sol e eu esqueça que agora, as duas horas da manhã, faz frio e eu ouvi uma música qualquer que me lembrou você. Que tem lua e que eu perco o sono porque eu tenho tanto pra; até lembrar que já não há mais como te ligar.

Bom dia, sunshine.

#oBardoEoBanjo

#OutraEu




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quinta-feira, 3 de outubro de 2013

#Fragmentos 2: vai, vem, vinho.

- Dorme bem, sim? Um beijo.
- Dorme beijo. Bem, sim?
Sou manco de palavra, viu?
- Tudo bem. Tuas "mancadas verbais" acompanham perfeitamente a minha gagueira mental.
Beijo, de novo!
- Beijo novo!

quarta-feira, 2 de outubro de 2013

"Falando sério, tenho andado bastante sozinho, sobretudo ultimamente. É um tempo de agitações, de ímpetos de impaciência, ansiedade e mau humor. Contando com a resolução das coisas, que chegue logo um futuro que sei que virá, sabendo que nada mais depende de alguma ação minha. Só da minha habilidade em esperar. E isso me lembra que não há mais com quem contar, além do tempo. Que ando meio sozinho e assim eu quis, de certa forma." Gabito Nunes
"Saudade é vazio preenchido de vontade, é sede que não sacia, é fome que não acaba. Saudade é falta. Saudade é estar só e ao mesmo tempo rodeada de uma presente ausência, de pensamentos recorrentes, de desejos intermináveis. Saudade é dormir sentindo, sonhar revivendo e acordar enquanto a alegria continua adormecida. Saudade é contar o tempo, é ter a sensação constante de que toda a angústia acabará em alguns minutos dentro de um abraço. Saudade é olhar de longe e pensar o que fazer para acabar com a distância. Saudade é insana e não tem planejamento, discernimento ou auto-controle."

terça-feira, 1 de outubro de 2013

Me falta a tua presença e me sobra um nó na garganta.