terça-feira, 27 de novembro de 2012

O amor é longe.


O amor o deixou. Notei de pronto.

Nos encontramos por acaso. Ele lia no banco e eu corria. Sem compromissos, a vida ia. E enquanto um dia qualquer se esvaia, a lua nascia e eu corria - sem saber se por mim ou de mim - ele lia e, naquele instante, meio que sorria.

O jornal dele era de ontem, o meu pensamento já não sei. Num encontro marcado pelo acaso, falamos sobre aquele caso estampado na manchete do jornal dormido. Sorte a minha. O jornal de hoje eu vira pouco mais cedo e bem sabia que não rendia assunto, era futebol.

Conversamos tão somente porque eu sabia que o amor o era longe. Não pude evitar. Nota-se uma coisa dessas pelas rincas doloridas que, não tão gentilmente quanto deveriam ser com aquele senhor, fazem morada nos arredores da boca. Aquelas rincas que se intensificam quão logo um sorriso se ensaia. Não pude evitar.

É, menina... - Disse ele. Sem mais. Senti que nunca mais o esqueceria, pura e simplesmente porque o amor o era longe.

Eis aí uma dor que fascina: a contradição de desamar e continuar vivendo.

Fragmentos de um ensaio

Apesar de toda a vontade, escrever uma história longa, daquelas com personagens, acontecimentos, desfecho, metáforas, descrições e uma mensagem genial que alinhava a história inteira e arrebata o coração do leitor a cada nova linha, bom, nunca fez muito sentido pra mim.

Talvez pela falta, ou não, de criatividade para criar uma trama capaz de prender alguém - além da minha mãe, é claro - por mais de quinze minutos, talvez porque eu me ache muto enrolada pra escrever ou, talvez, só por achar que nada de extraordinário acontece na minha vida. Não me entenda mal. Digo algo que, bom, valesse a pena ser lido.

Nunca gostei muito de ficção. Nunca fui do tipo de pessoa que vive perigosamente. Não que eu seja monótona nem nada, mas os meus dias teimam em acontecer de dentro pra fora. Muito mais "dentro de mim".

Ok, talvez quem me vê de fora, sentada um dia inteiro olhando pro nada, me ache um tanto quanto monótona. Minha culpa.

Talvez lunática. Deve ser assustador me ver sair da inércia quando aquilo que eu carinhosamente apelidei de "lapso momentâneo de tempo e espaço" me acomete e me faz querer tudo pra ontem, com a força de 1000 homens. Quando eu fico urgente sem motivo aparente e, com a determinação de um leão, promovo a segunda revolução francesa de dentro do meu quarto.

Bom, sempre acreditei que esse meu funcionamento estranho me tirava o "tempo". Os dias andam passando tão rápido e a verdade é que, por maiores que sejam as ambições, quanto mais tempo livre, mais "nada" eu acabo fazendo. Mais ambições, mais confusões. Para falar a verdade, entender é complicado a beça até pra mim. Enfim, como eu disse, nunca achei a minha vida extraordinária, literariamente falando. Intensidade de novela mexicana dificilmente vira best-seller, né?

Ironicamente, os meus amigos extraordinários e cheios de aventura pra contar - leia-se, aqueles que vivem mais de fora pra dentro - já comentaram alguma coisa sobre a "extradiordinariedade" da minha vida.

Nunca acreditei que nenhum dos fatos que eu vivenciei no alto dos meus quase 23 merecesse ser lido. Isso me amedronta um bocado quando penso na proximidade dos 30. Uma escritora sem histórias. Belíssimo. Se encaixaria bem na dinâmica de alguém como eu.

Confesso que, por isso, quase desisti de escrever. Até o dia em que eu percebi, não sem alguns empurrõezinhos, que talvez o que acontece aqui dentro pode interessar a alguém. Por que não?

Quem me conhece sabe que, vivendo de sorrisos soltos, não faz sentido que tristeza seja a palavra primeira desse blog.