segunda-feira, 17 de agosto de 2015

Para ler ao som de Lykke Li - Tonight.

Sacudi os lençóis e estiquei-os cuidadosamente sobre a cama imensa. Mudei os móveis de lugar, guardei os papéis e preenchi todos os cantinhos do guarda-roupa que de repente parece espaçoso sem a sua montoeira de casacos pesados e completamente desnecessários pro clima daqui. Acendi um incenso e inspirei profundamente pra lembrar que enquanto houver ar, a vida saberá ser. O truque é apenas continuar respirando, então. Engavetei as fotos, as memórias, os apegos, as expectativas frustradas e todas as nossas tentativas. Foi com a honra da exaustão que nos rendemos ao cansaço; nem um segundo antes. E eu que nunca fui de colecionar seguranças, estremeci com a ideia de seguir em frente sem a certeza dos teus braços cuidadosos bem próximos de mim. Dobrei delicadamente cada nota da nossa história e acomodei-as uma a uma naquela caixinha colorida que fica longe da vista, logo abaixo do ventilador. Arranquei os desenhos da parede, reposicionei os artigos de banheiro e escancarei as janelas para ver se o ar fresco dava conta de preencher o vazio que insistiu em ficar pra dormir essa noite. Sabe, o vazio não aprendeu ainda como esquentar os meus pés gelados. Mas, pra te falar a verdade, até o seu vazio é bonito, olhos de mar revolto. Até a minha tristeza é repleta de gratidão. É bonito feito o orgulho que eu tenho de tudo o que a gente construiu. Duvido que algum casal do mundo tenha dado mais certo do que nós. Será que existe alguém na história da humanidade que já tenha amado mais do que a gente? Eu aposto todas as minhas fichas que não. Pode ter certeza: ainda vão fazer um filme sobre o livro que eu te prometi escrever contando ao mundo essa parte tão linda da nossa história. E eu vou escrever, assim que for capaz de olhar pra trás sem me doer inteirinha. Uma coisa posso te dizer de antemão: você foi a escolha mais certa que eu fiz na minha vida errante. Foi a escolha mais bonita dentre todas as coisas bonitas que nunca foram tão bonitas quanto você. Porque, sabe, nada no mundo foi nem de longe tão transformador quanto amar você a primeira e a todas as vistas. E porque são lindas as tuas qualidades e as tuas falhas. São lindos os teus sorrisos, os teus devaneios malucos e as tuas chatices. São lindos os teus passos, os teus medos e os teus sonhos. São lindos os teus olhos, os teus silêncios, os teus acordes e os teus cabelos especialmente bonitos. Mas, acima de tudo, é lindo o teu coração e tua alma. É linda a tua capacidade de amar, como, pra te falar a verdade, eu nem creio que mereça ser amada. Se hoje eu chamo a solidão para um chá - e você sabe bem que eu sempre tive um medo aterrorizante dela - é só porque apesar de todos os meus erros e acertos, nada é mais justo do que o nosso tal final feliz. O rei me disse uma vez que quem deixa ir, tem pra sempre. Eu te confesso que até você aparecer na minha vida pra ensinar o que esse tal amor incondicional significa e do que ele é capaz, eu não tinha nem de longe entendido o ensinamento. E eu confesso que hoje tudo se resume em nunca na minha vida te perder, porque seria o pior dos pesadelos ter que viver sem você do outro lado (do abraço, da linha ou do mundo). "Quem deixa ir, tem pra sempre": foi só depois de te tatuar no hall de entrada do meu coração que eu entendi.