terça-feira, 4 de agosto de 2009

Não há quem possa enxergar tudo o que pulsa em uma alma como a minha. Aliás, não há quem possa enxergar tudo o que acontece na alma de ninguém além da sua própria. Faço questão! E a questão que faço é de explicar a mim mesma. Não acho justo que alguém se julgue competente para julgar outro alguém, não importa a que circunstância.
Hoje me perguntaram o que eu faria se o poder de julgar e castigar terceiros me fosse dado. Eu não faria nada. Não acho que seja justo interferir no livre arbítrio, na vida, no caminho e nas escolhas de alguém. Não acredito em céu. Não acredito em inferno. Não acredito em fim. Acredito que o céu e o inferno estão aqui e são agora. Acredito que toda a ação trás consigo uma consequencia, infernal ou divina. Acredito que não haja como fugir; que essa é sim uma regra sem exceção. Acredito que prestamos contas a nós mesmos e a mais ninguém. Não acredito que Deus, em sua bondade, perfeição e luz; sendo todo amor, infinita misericórdia e perdão deseja que seus filhos o prestem as contas. Não, as contas são pagas de nós mesmos, para nós mesmos e os benefícios após a prestação dais tais contas são, bom, nossos mesmo.

(...)

Ontem a minha mãe me deu uma bronca porque eu estraguei uma toalha - sem querer, obviamente. Eu não tinha dormido, tinha me desafiado (ou me torturado a troco de algo que eu não sei o que), tinha fome, cansaço, frio e a guarda baixa o suficiente pra deixar a tristeza me dominar inteira. Eu nem queria resistir a ela. Aquela sensação já me é tão desagradavelmente familiar; aquela dominação, aquela invasão. Já vi diversas pessoas que se identificam com "se as pessoas pudessem ver a tristeza que guarda a minh'alma; ao verem meu sorriso, chorariam comigo". Eu sou mais uma delas. Trago na alma uma tristeza esmagadoramente opressora que não sei porque e nem da onde. Ela assim, tão presente, tão vazia, tão aparentemente sem sentido. Tão companheira e ao mesmo tempo, uma completa estranha. Ela, que me dá bom dia, respira e pisca comigo, segue meus passos, se pronuncia em minhas palavras, vê em meus olhos e me embala no adormecer. Trago-a e convivo com ela desde nem me lembro quando. Foi graças a ela que entrei em depressão profunda aos nove anos. Foi com ela em meu encalço que a história se repetiu aos quatorze. Foi por carregá-la durante tanto tempo e ainda assim desconhecê-la completamente (conhecendo apenas a sua presença e nada mais) que perdi a conta de quantos psicólogos visitei e quantas feridas eu esmiucei.
Com o tempo eu aprendi que a depressão vem de uma pré-dispoção que nos colocamos com relação a entrega dos pontos. Nos entregamos a tristeza e nos deixamos envolver cada vez mais. É difícil nutrir o que estamos sentindo com menor intensidade dentro de nós. Quando a entrega nos parece sedutora é sinal de que a tristeza está assolando forte no peito, tanto que lutar parece tão doloroso e cansativo que podemos pensar em desistir e nos darmos por vencidos. É difícil nutrir a felicidade que existe dentro de nós então. É difícil, mas não é impossível. Eu acredito piamente que as pessoas felizes são as que não tem motivos aparentes para serem felizes mas ainda assim o são. Os motivos podem não estar aparentes quando a tristeza assola, mas é até pecado se deixar envolver tão fundo a ponto de achar que os motivos de felicidade não existem. Eles existem, estão aí e se não há forças o suficiente para lutarmos por nós mesmos, então que nos agarremos nos motivos de felicidade; no que vale a pena lutar por. A pré-disposição inicia da visão; otimista ou pessimista. O copo meio cheio ou meio vazio. Estar bem, tirando o que está mal ou estar mal, tirando o que está bem. Não depende de mais ninguém.. Depois daí venha a tristeza que for, eu não aceito mais a depressão.
Acho que veio dela essa necessidade de me conhecer tão bem. Eu sei que não há ninguém mais, além de mim, que possa lutar contra essa corrente. Ela, que de tão presente, às vezes parece parte de mim, nunca antes foi o assunto dos meus textos. Ela nunca foi exposta, ela nunca saiu para dar uma volta nessas linhas. Ela já banhou sim, cada palavra do que escrevi, mas nunca teve que ler sobre si mesma. Foi por ela que eu me tornei uma expert em fuga. Fujo dela nem me lembro desde quando. Foi graças a ela que aprendi a ocupar minha mente e meus dias. É por causa dela que pra mim é tão difícil arrumar tempo seja lá para o que for, se isso significar sair fora da minha rota de fuga padrão. É por causa dela que eu vivo cansada. É culpa dela eu correr o tempo todo e não me dar o luxo de descansar. Não posso precisar descansar. Não com ela aqui. Ela é tão latente que as vezes eu vivo mais do que posso viver, que eu não paro e sempre disparo em busca do próximo movimento, do próximo foco. É graças a ela que eu entrego a responsabilidade de me fazer feliz a segundos, terceiros ou quartos; porque com ela aqui eu não aprendi a me fazer feliz, só a fugir dela. Eu procuro fora de mim o jeito, procuro a felicidade de fora pra dentro, como um carinho, um alento, um abraço forte que me proteja dessa estranha que comunga esse corpo comigo. Um abraço que a deixe com medo, um abraço que me deixe forte e que me permita parar pra descansar. Acabo querendo, eu diria até precisando. Acabo tornando essa "felicidade externa" o meu vício, meu tranquilizante; com direito a crises de abstinência e tudo. Não é por mal, é por tristeza. Eu não posso viver de vícios pelo resto da vida, preciso encontrar a paz que me permita descansar, a minha força, a forma de abraçar minh'alma com meus próprios braços.
Eu tive que aprender a conviver com ela. De certa forma, ela até acostuma. Eu já me revoltei com ela, onde já se viu? Eu, com uma vida mais que abençoada, amor, apoio, carinho, base... Qual foi a brecha que ela encontrou pra se instalar, ora pois? Eu demorei muito tempo pra perceber que ela não vem de fora, ela vem de dentro, vem da minha história, vem como fruto do meu trajeto como espírito milenar e vem de questões que até hoje eu desconheço. Questões que eu sempre fugi de conhecer. Não fugia das questões, eu fugia dela. Eu negava ela. Como ela pode existir, meu Deus? Que tipo de ser humano egoísta eu sou que pode ter a tristeza e a melancolia como o estado de ânimo por trás das falsetas tendo tudo o que eu tenho? Então eu não tinha, eu não podia ter. Eu não sou egoísta assim, eu juro - eu repetia. Eu demorei pra perceber que isso não é egoísmo, que ela é um desafio meu, que não diz respeito a tudo e todos que eu tenho ao meu redor e não os desmerece de forma nenhuma, que eu to aqui pra lutar com ela e que isso, igualmente, não desmerece em nada o que eu sou. Às vezes eu acho que nem percebi genuínamente. Ainda me atormenta o fato de saber que em dias como ontem, quando eu não consigo mais fugir, ela vem e me invade e me inunda e me afunda e me desespera. Ela vem tão forte quanto poderia ser e eu luto não para movê-la, luto apenas pra não ser completamente esmagada por ela. Luto por tudo que tenho, por tudo que sou e por toda a minha vontade de lutar. Ela vem e me joga pro chão e me tira o ar e me deixa perdida, como se eu estivesse completamente sozinha, como se não houvesse sentido, como se fosse vazio. Ela vem e faz viver me parecer um fardo sem porque, sem relevância o suficiente para contrabalançar o quanto ela pesa dentro de mim; o quanto ela me esmaga e o quanto é cansativo o modo que eu encontrei de me dividir com ela. Ontem eu deixei ela me invadir e fiquei me perguntando como tanta tristeza pode ficar dentro de um só peito. Como eu consigo viver de 24 em 24 horas desde sei lá quando com ela no encalço; quanta dor. Eu tive pena de mim, sim; até que percebi que pena não ajuda em absolutamente nada. Então eu tive orgulho. Tive orgulho da minha força, tive orgulho de cada 24 horas, de cada impulso que eu dei dizendo "vai, pelo amor de Deus, sai dessa só mais uma vez.." uma vez, de cada vez.
Ela é tão laciva que ontem gritou dentro de mim: para de se distrair, de buscar alegrias, uma após a outra, porque eu preciso sair! Eu tive que deixar que ela saísse, não consegui fugir dela. Então ela veio, fez o que faz e eu chorei. Chorei compulsivamente. Solucei, deitei encolhida e lutei mais uma vez pra não ser esmagada por aquele sentimento cruel que dominava meu peito. Pedi pra arrumar forças em algum lugar do meu ser cansado pra, pelo amor de Deus, sair dela só mais uma vez.
Ela existe e nos momentos em que eu me encontro mais frágil, me sinto mais indefesa, e canso de fugir ela se torna até, de certa forma, atraente. Se torna atraente deixar que ela me domine já que, desde eu não me lembro quando, essa é a consequência que eu pago quando preciso parar e descansar. Minhas fragilidades são bem guardadas. Não é orgulho, ou pelo menos, não é só orgulho. Escondo minhas fraquezas atrás de sorrisos e realmente não gosto de sair falando delas por aí. Às vezes eu sinto que devo, as vezes sinto que preciso, mas nem sempre consigo. Eu sinto falta de um alguém que escutava, segurava a minha alma nos braços e enfrentava ali toda essa correnteza dentro de mim, quando eu me sentia como agora, sem forças pra continuar fugindo dela. De quem me abraçava por genuína vontade de me abraçar e enfrentava porque me ver enfrentar ela, não importa quantas vezes, era tão importante pra si como era importante pra mim. Acho que a minha felicidade era mais importante pra ela do que pra mim mesma. Sinto falta de alguém que conhecia esse lado escuro da minha caminhada e me encorajava a parar de fugir, e insistia que eu tenho forças sim pra vencer. Que me segurava nos braços quando eu caía e ficava do meu lado esperando eu me levantar quando a tristeza me tomava a alma e eu, mais uma vez, lutava pra não ser esmagada e pedia pelo amor de Deus, força, só daquela vez. Não era pena, não era obrigação, não era interesse, não era nada além de sentimento, de amor, de amizade, de cuidado e importância que de alguma forma eu, sendo bem assim, provocava nela. Nem sei se era certo me agarrar nesse alguém como eu me agarrava, mas por muito tempo foi o melhor jeito que eu arrumei. Era o melhor que eu podia fazer. Agora, eu sinto falta, eu me sinto perdida e ainda me vejo caindo, ainda me vejo arrastando. Agora quando eu caio, eu caio no chão; não há aquele par de mãos. Mas eu vejo que é o modo que a vida encontrou de me mostrar que eu preciso fazer melhor do que estava fazendo até então. Que eu preciso confiar quando falavas que eu sou forte sim, sou forte o suficiente para encontrar o caminho e vencer, sim! E que isso, mais cedo ou mais tarde, eu ia precisar encarar e ficar frente a frente e que você podia me dar todo o apoio desse mundo, me segurar quantas vezes fossem necessárias, mas só quem poderia lutar com ela aqui dentro de mim, era eu. Eu hoje me arrependo de não ter enxergado o que eu enxergo, antes. Não exatamente me arrependo, porque sei que tudo tem seu tempo e que, naquele tempo, eu realmente lidei com isso da melhor forma que eu encontrei pra lidar. Mas eu me arrependo, porque eu queria ter dito: "Oi, tristeza, eu te reconheço, eu te aceito. Quero que tu saibas que eu reconheço sim a tua existência aqui dentro de mim e não vou mais fugir porque isso é só mais um paliatívo, um anestésico de preço caríssimo. Não vou mais me agarrar nas pessoas pra que elas te enfrentem porque é dentro de mim que tu moras e teu assunto é comigo. Eu vou te conhecer se preciso for, vou me preparar para conhecer tuas origens, mudar o que é preciso no meu íntimo e secar tuas fontes; não te alimento mais! Não quero mais que encontres nutrição dentro de mim ou que me nutras e preenchas um vazio aqui de forma alguma. Vou encontrar o caminho. A partir de agora é aqui que eu estou, frente a frente contigo pra te conhecer e te vencer, não mais uma vez... mas de uma vez. Quero alegria e paz como estado de espírito. Quero usufruir de um estado de espírito e não mais ficar correndo sem poder parar e analisar o meu ânimo sem ser quase esmagada por você. Da vida eu quero muito mais. Quero preencher o vazio que tu insistes em dizer que é teu aqui dentro de mim. Quero aprender a viver sem você, te deixar ir. Não quero mais que tu sejas o preço do meu descanço, da minha pausa e nem a fonte do meu cansaço. É, tristeza, eu te reconheço, eu te aceito, eu te vejo e, a partir de agora, eu vou lutar." Queria ter dito tudo isso quando não me sentia assim, meio sozinha. Quando ainda tinha as tuas mãos - e tudo o que isso significava - por perto pra me acolher depois das esmagadas. Não vou procurar isso em ninguém. É, eu sei que se não estás aqui e o momento de enfrentar chegou justamente agora é porque é assim que tem que ser. Não tenho motivo algum pra não acreditar que as coisas acontecem na minha vida da forma certa - ainda que eu não entenda - para o meu crescimento.

A pergunta da minha mãe foi: Se você pudesse pedir uma coisa e ser atendida, o que seria? Eu quero força, proteção e direcionamento para encontrar e seguir o caminho, seja ele qual e como for, pra superar essa tristeza que mora dentro de mim. É isso que eu vou pedir todas as noites antes de dormir.

P.S. Sem revisão, pra variar.
P.P.S. Eu to podre, mas precisava escrever.

Boa noite, blógui! ;*~

Nenhum comentário:

Postar um comentário