terça-feira, 4 de agosto de 2009

"Tenho de ter paciência para não me perder dentro de mim. Vivo me perdendo de vista. Preciso de paciência porque sou vários caminhos, inclusive o fatal beco-sem-saída."

É tudo uma questão de personalidade. As coisas estão tão confusas dentro de mim que não faço a mínima ideia de como começar. É tudo uma questão de personalidade e, cá pra nós, graças a Deus que assim o é. Pensar, querer e sentir. É assim que sou. Não há o que me chame mais atenção e me mova tanto quanto o interior. Minha vida acontece, muito mais do que em qualquer outro lugar, dentro de mim. Me vejo meio Clarice Lispector; devaneios de linhas e linhas intranquilas preenchendo páginas a fio em meio a uma ação insignificante. Abrir uma porta, dar uma golfada insensata de ar, fritar um ovo ou manter as faculdades motoras em um grau de funcionamento tal para que eu continue existindo - "ações insignificantes". Em algum lugar eu li que Clarice Lispector não se lê, Clarice Lispector se sente.

Por vezes eu queria muito saber "agir". Ser uma pessoa prática, que faz, age, impulsiona. Eu nunca fui assim. Os meus ímpetos de agir são tão fortes e descontrolados que chegam como uma explosão. Quando eu preciso agir, é imediatamente, em relação a tudo, tudo ao mesmo tempo. Definitivamente eu não sei agir; agir me deixa tão perdida que eu acabo imersa em pensamentos antes mesmo de ter começado. Me afasto da ação a medida que meus pensamentos me trazem pra "casa" novamente e o sedativo começa a fazer efeito. Agir me custa, me pesa, me esgota e me confunde. Ainda não aprendi como fazer. Meu mundo sempre foi particular e complexo, atado em minha dificuldade. Minhas vitórias, minhas conquistas, meus conflitos e minhas dificuldades não acontecem no mundo lá fora. No mundo lá fora eu sou turista, sou selvagem e sou arisca. O meu mundo acontece aqui. É aqui que eu existo realmente, é aqui a minha "casa": entre quatro paredes laranjas e familiares, minha xícara de chá, um bom incenso - ambos tão doces quanto podem ser -, um coração sentindo e uma cabeça pensando.

Acho que viemos pra esse mundo para contribuir com o que temos de bom e aprender a desenvolver o nosso lado menos desenvolvido. Não sei ao certo o quanto o meu sentir é bom, mas talvez alguém encontre nessa escritora errante uma companhia, um consolo quando se sente um peixe fora d'agua, quando se sente o único ser que pertence a si mesmo, talvez mais do que ao mundo. As vezes me sinto inútil de passar tanto tempo construindo linhas sem utilização aparente num endereço virtual propositadamente desconhecido - ou quase - sem bom, a tal utilização aparente. Não é incomum eu ter de lidar com aquelas ataduras malucas que a organização da nossa sociedade traz: É inconcebível o fato de não agir, fazer o nada. É preocupante, grave e proibido não fazer a mínima ideia do que fazer. Para alguém que sente, essas são questões tão comuns. TÃO comuns. Como poderiam não o ser, a um ser que se sente tão a deriva em si mesmo - onde é tão gigante em seu sentir -; e tão estranha em um mundo onde é tão pequena e submissa a suas responsabilidades?!

O que eu vou fazer na vida? Não faço a mínima ideia. Fazer me é complexo. Acho que quando fossemos escolher o que fazer, deveriam contar as atividades da alma como uma alternativa. Da vida eu quero fazer algo extraórdinário. Quero trancender barreiras e superar limites.

Vivo tão dentro de mim que faço teatros, invento desculpas, tento me enganar e fugir do que preciso enfrentar, pensar, escrever - ainda que sinta o quanto eu preciso - aqui, no escuro do meu quarto. Não é nem charmoso; não há absolutamente ninguém mais a ser enganado a não ser eu ou, ao menos, entretido com a peça que enceno com todo o cuidado de uma crítica severa. Eu gasto o meu tempo não sei aonde. Minhas medidas de tempo são diferentes. Minutos não dão certo para mim. Eu os perco enquanto vivo e, como se acordasse de um transe, depois não lembro em que buracos eu os enfiei. Assim o relógio vai passando, mas, de alguma forma, em meu próprio tempo, o tempo não vai com ele. Meu tempo é contado pelo ar. A minha tristeza leva consigo tempo, muito tempo. Minha felicidade paralisa o tempo. As minhas falsetas me fazem perdem tempo.

Nós não somos o centro do universo, bem pelo contrário. Mas eu acredito que cada ser humano seja um universo a parte e que uma boa forma, talvez a única, de mudar o universo seja começando a mudar o que precisa ser mudado dentro de cada um. Sendo assim, de que adianta a facilidade para agir sem antes se conhecer e reconhecer, ou a facilidade de se conhecer longamente sem que se consiga agir em prol da evolução? Essa é a minha meta. Vencer as amarras que me prendem assim tão dentro de mim. Ultrapassar os meus bloqueios e meus boicotes conscientes e inconscientes. Controlar todo o turbilhão que habita aqui e conseguir equilibrá-lo o suficiente para que consiga fazer algo mais com as minhas faculdades motoras além de, basicamente, continuar existindo. Não pretendo ser como alguém que trás em si a essência do fazer; essa não sou eu. Não quero ser o outro, quero ser eu, cada vez melhor. Aperfeiçoando a minha essência e lutando sempre para ultrapassar os meus desafios.

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