terça-feira, 23 de abril de 2013

#meu bem,

Para arrancar sorrisos em uma tarde ensolarada de brisa fria ao som de Bon Iver. 

Sabe,

eu poderia facilmente colocar a culpa de meu sumiço iminente na prolongada falta de internet em minha nova casa. Ela tem sido, pra falar a verdade, um ótimo álibi pra postergar gentilmente alguns abacaxis dos quais não sinto a mínima vontade de tirar a casca no momento. Pra você, convenhamos, eu não preciso mentir. Nunca precisei. A verdade é que não tenho escrito uma só palavra nos últimos tempos. E não me interprete mal. Não é como de costume até então. Isso não tem sido nem um pouco ruim, tampouco esmagador ou dolorido. Meu processo acabou por dar um descanso às palavras. Ando mais entretida com cores, notas e aromas. Fui bem injusta, eu sei. Te escrevi fragmentos de uma história dolorida e com resplandecentes reticências que não me dei ao trabalho de completar. Não consegui. Falha minha e que bom que não me julgas. Sei que não. Precisava te dizer, travando uma batalha pessoal contra o silêncio que teima em escorrer pelos dedos, que não foi por mal – e que eu sei que sabes disso.

Tenho uma incontável porção de coisas pra dividir contigo. Agora eu moro em um templo de frente para o mar. Gosto de vê-lo como um refúgio. Um refúgio pra alma. Aqui o tempo passa diferente – pra não dizer que ele simplesmente não existe - e as hostilidades lá de fora não passam da porta – e tampouco das janelas, é claro. Das janelas, aliás, recebemos apenas os raios do sol, o vento, os sussurros do mar e algumas gotas de chuva que insistem em entrar pela vedação precária entre os blocos de vidro. Detalhe.

 Nessa nossa construção, as estruturas são inquebrantáveis e paira uma aura mágica de muito amor, de coletividade, de família. Aqui eu assisto os nasceres de sol quase todos os dias. Passo tardes, noites e madrugadas compartilhando energias, conversas, delícias, refeições magníficas, vinhos – tenho tomado ótimos vinhos - e, porque não dizer, confessando saudades de você. Lembro de ti quando sento ao redor da mesa de centro com uma caneca fumegante de café forte, – agora meu café não é mais adoçado, aliás - acompanhada de bons livros, incensos e, nesses dias gélidos, de um cobertor.

Moro com duas.. – como defini-las? – Duas partes de mim. Somos três, formando um. Um único, lindo e substancial elemento multicolorido. Um quatro.

Tenho ido à praia todos os dias, seja pra mergulhar, observar o pôr do sol ou dar uma voltinha de bike. Imagino que saibas o quanto o contato com Iemanjá tem me guiado e me feito bem. Me sinto acolhida. Quando bate um vento, aliás, eu percebo que as pontas dos meus cabelos já alcançam bem mais longe do que alcançavam da última vez que nos encontramos. Muito tempo se passou, não? Ando meio nula a esses dados estatísticos, mas sinto que sim.

Tenho trabalhado pouco, algumas noites aqui e acolá. Sirvo mesas, sirvo pessoas, sirvo felicidades e sou retribuída, em sua grande maioria, com sorrisos. Sabe, servir tem me feito muito bem. Ganho exatamente o dinheiro que preciso pra não ter de me preocupar com essa chatice de “preciso ganhar”. Tem sido bem melhor assim.

Em meu tempo livre, passeio por um processo profundo de “entrar em contato”. Esse fica pra uma próxima conversa - por ser parecido com nossos abraços; rico em expressões, silêncios e complexidades aquéns ao nosso limitadíssimo dicionário. Adianto só que me sinto mais conectada, pulsante e integral do que nunca. 

Não vá se enganar, é claro. Continuo com aquele turbilhão interno que conheces bem e os mesmos olhos ressacados de que gostas. Mas, em prol de não perder a sanidade diante de incertezas futuras, tenho vivido o tempo presente e praticado as leis do desapego sempre que possível. Tenho sentido uma fé inabalável no universo e na felicidade que foi reservada a mim, a nós. Tenho me perguntado por onde andas. Confesso que, hoje, saudades eu guardo pouquíssimas. A de ti, entretanto, se manifesta a cada matiz de céu que observo por aqui. É, sem sombra de dúvidas, uma das mais carinhosas que coleciono.

Com a doçura presente em todo amor do mundo, sem mentiras,
Emma.

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