segunda-feira, 31 de outubro de 2011

#TimeTwo

I

Fazia um bom tempo que não acontecia. Eu, sentada em um lugar qualquer, encarando fixamente o celular bem seguro em minhas duas mãos. Logo eu que nunca dei valor nenhum pra celulares. Ali de novo, nula a tudo ao meu redor. Liga, eu pensava. Me liga, por favor.
Nada. Liguei uma vez e ninguém atendeu. Liguei pro outro número, nada. Insisti. Parei. Lá estava eu encarando o celular e pensando: vai, me liga e acaba com isso, poxa. Liguei pra outra pessoa. Saudade. Matou e aumentou, tudo junto. Foi bom, mas não acabou com aquilo. Continuava ali no meu peito. Liguei pra outra pessoa. Saudade e.. "Já te ligo". Tá. E lá estava eu encarando o celular. Tocou. Será que é agora? Alô? Olha, ela lembrou de ligar de volta. Saudade. Matou e aumentou, tudo junto. Desligamos e continuava ali. É, não foi dessa vez.
Poderia ter ligado pra umas 15 pessoas. Revirei em saudades e fazia um bom tempo que não acontecia. Estava sentada novamente encarando o celular. Chega uma mensagem. Linda. Era a hora certinha pra fazer um pedido. "Me liga", pensei. Passou mais um minuto e, veja bem, depois de um minuto já não era mais a hora certinha. A hora certinha passa tão rápido.
Tentei de novo. Um número, outro número. Duas vezes. Poxa. Você realmente não vai ligar? Eu virava, me revirava. Se você tivesse ligado, eu teria falado uma meia dúzia de verdades engasgadas mesmo sabendo qual seria a sua resposta. Mesmo sabendo que você iria me fazer parecer uma pré-adolescente ridícula no final das contas. Tá, desligaríamos. Não, ainda não! Ainda não passou! Espera. E falaríamos mais um pouco e desligaríamos. O assunto esgotaria. E depois? Ah, droga.
Tirei os olhos do celular e percebi. Nossa, fazia um bom tempo que não acontecia. Percebi que conhecia bem aquela sensação camuflada por de trás de toda a situação. Não era o celular, não era você, não era ninguém. Que merda, que merda mesmo. Olhei ao redor e não havia nada ali que fizesse passar. Voltei os olhos para o celular. "Sinceramente, Brunna, quem, se ligasse nesse exato momento, faria essa sensação passar?" Ninguém. Não era com ninguém e você bem sabe. Nunca é. É contigo mesma.

II

Ainda bem que, sem que eu precisasse pedir, ela apareceu pra me abraçar. Possivelmente ele não ia passar naquele momento, mas aquele não era o tipo de sentimento que eu queria sentir ali, sentada, sozinha. Bem poderia, justo eu. Mas não queria. E eu achei linda a sintonia. A sintonia de saber que ela sabia exatamente o que eu queria, sem que eu precisasse pedir. Não pediria.
Ela me via e aquilo não me incomodava, bem pelo contrário. Achei lindo. Não sustentei nenhuma máscara, não vesti sorrisos ou armaduras; só me acomodei no ombro dela e fiquei. E ela me abraçou. Eu poderia até chorar sem me sentir desconfortável.
Quando eu quis olhar pros olhos dela, ela pediu que eu virasse. "Espera aí, essa fala foi minha ou sua?" Meus pensamentos, a boca dela. Me virei e percebi que, dentre tudo, era aquilo que eu achava mais lindo. Mais lindo que de alguma forma saber exatamente o que fazer, era realmente fazer. E ela sempre faz, com a naturalidade incrível de quem não espera absolutamente nada em troca. Faz como quem não se incomoda nem um pouquinho com as minhas fraquezas, complicações, tempestades e bloqueios. Como se ela gostasse de tudo o que faz parte de mim. Tudo mesmo.
Então ela disse que estava do meu lado e que é ali que vai ficar até que fique tudo bem. Que vai ficar. Que ela sabia que sim. O meu peito continuava doendo e eu sabia que só continuava doendo porque fazer aquilo passar não dependia dela. Se dependesse, ela faria.
Ela disse exatamente o que eu precisava ouvir. O que eu precisava ouvir desde menina, quando me escondia embaixo das cobertas nos momentos em que essas dores típicas grudavam no calcanhar. Doía, porque as vezes eu me douo. Porque essa sou eu. Mas de repente eu percebi que, com ela por perto, ser eu mesma me pareceu infinitas vezes mais confortável.

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