terça-feira, 18 de outubro de 2011

Diálogo

"You got me wrapped around your finger.."
seguida por
"Fiz minha casa no teu cangote e não há nesse mundo o que me bote pra sair daqui.."

...Mas eu quis te dizer que eu sentia tanto, e que tanto era realmente muito. Quis falar sobre como é confortável me sentir em casa quando você está por perto e que, apesar da minha preguiça de fazer algum esforço pra parecer grande coisa, é bem isso que eu me sinto quando você esquece o resto do mundo e para os olhos em mim. E aí eu lembro do que eu vejo todas as vezes que me olho no espelho ou no reflexo de um vidro qualquer. Levanto a sobrancelha sem entender e me bate uma certeza de que você é absurdamente cega (e de que isso, definitivamente, explica muita coisa). Ainda assim, não gosto de pensar que um dia você pode simplesmente não se encantar mais com aquela-tal-coisa-vinda-de-seja-lá-onde-for-e-que-não-sei-porque-diabos-você-viu-em-mim na noite em que me conheceu.
E eu quis te falar sobre o quanto eu adoro andar de short, moletom, cabelo bagunçado, pés descalços e cara lavada. Que não é por mal que eu pareço um leão, mas, por mais que eu tente, o meu cabelo não me obedece nem com banda de música. E te falar que eu tenho andado viciada demais em café, chocolate e cigarros, que tenho matado a academia, que ando dormindo pouco e que isso tem feito um mal danado pra minha pele.
Quis falar que com você é diferente, como se você já não soubesse. E quis falar sobre como eu gosto do teu corpo excessivamente quente e sobre como eu acho engraçado você gostar dos meus pés gelados. Quem no mundo - além de você, é claro - gosta de pés gelados, afinal?
Meu Deus, eu ia ser piegas. Ia mesmo. Mas, por mais clichê que fosse parecer (e pode crer que pareceria), eu quis falar que o que eu sinto por você é novo. Um sentimento como nunca antes. E que eu sei que você sabe que é diferente, mas que, na verdade, é ainda "mais diferente" do que parece, entende?
Quis falar que eu não acreditava que intensidade poderia algum dia vir acompanhada de bonança. Mas antes que eu conseguisse juntar um punhado de palavras úteis e abrir um espaço suficiente entre os lábios pra deixar que elas saíssem, minha alma de pisciana inquieta atrapalhou. Ih, lá vamos nós de novo; pensei. Nós fomos.

Ela chegou, parou do meu lado, deu uns tapinhas no meu ombro e se apoiou irônica, debochada, irritante e insuportavelmente cheia de si:
- "Olha, eu aceito ficar."
Peraí, eu conheço bem esse tom!
- Esse tom é meu, alma. Meu e não vem com essa de chegar se achando a dona do campinho.
Parei.
Para tudo.
Me dei conta do que tinha acabado de escutar.
- Tá e você me fala isso "assim"? Com todo orgulho, pompa e circunstância? Assim? Como se fosse a coisa mais natural do mundo? "Oi, tá quente hoje, né?"
Silêncio. Ela adora me ignorar e me olhar com essa cara de "vai, eu sei que você não vive sem mim".
- Hey, alma, eu lá te perguntei alguma coisa? - Provoquei. - Como se alguma vez na minha vida você tivesse esperado até ser convidada antes de ir entrando, né?!
Alma que não tem jeito, essa. - "Não te deram educação, não?", pensei e fiz uma careta. Quem diabos, que não eu, deveria ter educado a minha própria alma, afinal? - Mas ela nem me deu ouvidos. Nunca dava. Espirituosa.
- Alma, escuta aqui: E eu? Onde eu fico nessa história? Que tal perguntar se eu quero entrar de cabeça, corpo e er, "alma"? Só pra variar, pra saber a minha opinião quem sabe? Tu e essa tua mania de chegar me invadindo e me roubando a paz, a concentração, o fôlego e o resto.
Ela estendeu a mão e fez cara de saco cheio. Aquela que mistura ai-meu-Deus-eu-já-ouvi-isso-antes, com dai-me-santa-paciência-e-troca-o-disco e para-com-isso-que-eu-te-conheço-melhor-que-você-mesma. Não fosse pela audácia da minha própria alma, eu teria xingado. Fiz silêncio e, atônita, esperei que ela falasse.
- "Eu não falei nada sobre entrar. Falei sobre ficar."
- Ficar? Aqui?
- "Não me escutou?"
Quase ri; "como essa alma é parecida comigo". Foi nessa hora que eu apontei na tua direção.
- "Ééé. Bem aí mesmo. É aí que eu fico."
Engoli seco e lembrei que precisava respirar. Ela deu um sorriso debochado, como quem diz "olha quem tá começando a pegar o jeito.. Quem sabe daqui umas 15 conversas desse tipo você já esteja realmente espertinha..." cheia de ironia nas reticências.
- "Se vira, Brunna."
O tom foi amigável, dessa vez. Aquele próprio de quem diz um "eu seeei que você vai colaborar".

Fiquei em silêncio e não te disse nada sobre tudo aquilo que eu tava pensando em falar. Sabe como é: minha alma fala demais. "Se vira, Brunna..." Pois sim. As reticências ecoaram vagas em meus pensamentos enquanto eu assistia a minha alma se afastar lentamente na tua direção. Você continuava transbordando em silêncio, me olhando com aqueles olhos de quem também parece ter algo a dizer e não consegue. Estava tudo quieto novamente.


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