quinta-feira, 23 de abril de 2009

Capítulo 9

Fazia décadas que ele nem aparecia mais. Meus dias já tinham voltado ao vazio que costumavam ser. Era só mais um daqueles encontros na casa dela entre alguma festa qualquer e alguma aula aleatória. Eu e a loira já tínhamos histórias e mais histórias pra contar. Enquanto eu organizava os arquivos do notebook que ela insiste em bagunçar, eu pude ouvir sua voz abafada pela acústica do banheiro me cutucando a ferida. “Será que ele vai estar lá?” Me perguntou displicentemente enquanto, suponho eu, fazia a maquiagem. Foi como se alguma coisa escondida reavivasse em mim e esmagasse o meu estômago. Porque a pergunta assim, sem aviso prévio, sem tempo pra eu me preparar? Parecia covardia. “Não sei” Me limitei a dizer e rezei para que o assunto encerrasse. Eu e ela sempre fomos amigas mas nunca tivemos aquela conexão mental onde meias palavras eram suficientes; só eu sabia o quanto isso fazia falta. “Eu acho que ele tem “um tombo” pela garota do Oxford preto, né?” Essa eu não poderia responder. “Não sei” me limitei a responder novamente. Deve ter sido baixo demais, porque quando dei por mim ela já estava escorada na parede com metade do rosto aparecendo pela porta do quarto e uma expressão de curiosidade e diversão. “Não sei, ou ele tem por ela, ou ele tem por nós, né? Nunca vi convidar tanto pra tomar aquelas tais cervejas... Na casa dele deve ter uma festa permanente.” Disse tentando parecer o mas divertida possível. Eu não estava me divertindo com a situação e tinha certeza que naquela noite não conseguiria comer mais nada.

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