segunda-feira, 30 de março de 2009

Capítulo 7

Estávamos saindo da aula alguns minutos mais cedo e ela estava novamente usando aquele Oxford preto. Aliás, nós duas tínhamos passado o dia todo andando por aí e falando sobre nada. Eu nunca havia me pronunciado sobre o efeito que ele causava em meus ossos - não pra ela -. Até poucas semanas atrás eu não sabia que nos tornaríamos amigas daquele jeito.
O bar ficava a poucos metros dali e o calor abafado daquela noite realmente merecia uma cerveja gelada. No caminho, nossa conversa frenética e despreocupada foi interrompida por uma música abafada e familiar. O toque do celular já não me causava estranheza alguma. O fato de o celular tocar, tampouco. Foram-se os comprimentos iniciais, que ouvi vaga e desinteressadamente, até que ela pronunciou o nome dele propositalmente com um sorriso imenso e divertido nos lábios para que eu soubesse quem estava falando do outro lado da linha. Era ele. Aquilo já foi suficiente pra que minhas pernas fraquejassem por um momento e eu mexesse nervosamente nos cabelos enquanto continuava a andar - agora sem o mínimo de naturalidade e destreza nos movimentos -. Apurei os ouvidos mas podia ouvir apenas o ruído vago da ligação. Não foi difícil de entender que ele estava convidando para uma "confraternização entre amigos" em seu apartamento - que Deus sabe que não deveria ser tão ridícula e revoltantemente perto de onde estávamos - regada de cerveja enquanto ela negava o convite dizendo que estava indo até o bar com aquelas amigas que ele conheceu na fatídica festa. "Ah, pode trazer as tuas amigas!" Ela repetiu o que acabara de ouvir se divertindo com a situação.
Eu ficava me perguntando quem gostaria de ir até a casa dele e afirmava logo em seguida com uma certeza extremamente falsa de que eu realmente não queria. Certamente estar ali, no bar, era um milhão novecentas e trinta e sete vezes melhor. Entre meus devaneios habituais e nossos assuntos divertidos de mesa eu não notei que a minha cabeça já estava na casa dele, a tempos.

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