sábado, 28 de junho de 2008

Caroline decidiria sair de casa aos 20 anos. Não que durante esses 20 anos tenha passado muito tempo em casa. Nasceu na Inglaterra durante uma viagem de férias de seus pais que foi estendida propositalmente para que, bom, ela nascesse na Inglaterra. Era como eles sempre diziam durante uma taça de vinho e outra nos eventuais almoços familiares: o Brasil é um país de terceiro mundo e Caroline tinha muita sorte de não carregar a cidadania brasileira na certidão de nascimento.

Possuía cabelos castanhos longos, grossos, levemente ondulados e com um ar encantador de displicência; os traços eram do pai; lábios carnudos, olhos verdes puxados e covinhas no queixo e nas bochechas. Sempre fora alta e magra. A pedidos da mãe sempre lhe foi imposta uma dieta rigorosa elaborada por nutricionistas. Não era permitido desobedecer às regras uma vez que Caroline nunca fazia as refeições desacompanhada. A mãe era uma figura de cabelos claros e longos, sempre presos em coques impecavelmente penteados, uma estrutura miúda e olhos de um castanho arrogante. Até onde Carolina lembrava, a mãe foi uma mulher de grande vida social; sempre impecavelmente vestida e sempre indignada com o jeito fora dos padrões da menina.

Carmen sempre reprovou o fato de Caroline recosturar todas as roupas, tirando sempre as etiquetas que denunciavam o valor das peças caríssimas que ganhava de presente. Aliás, sempre ganhava muitos presentes. Presentes de todos os tipos, todos os preços, de todos os cantos do mundo. Pelo menos oito meses do ano seus pais passavam longe do Brasil, ente viagens de trabalho e lazer e lhe traziam... presentes. As viagens eram muito importantes para manter a imagem da família, apesar de só serem realizadas pelo fato de o pai de Caroline ser o dono de uma das maiores companhias aéreas do Brasil. A situação financeira da família já não andava assim tão bem, o que não lhes permitiria tantas e tantas viagens sem as regalias aéreas que possuíam; a aviação estava em crise.

Caroline estudara o ensino fundamental inteiro no melhor colégio semi-interno de São Paulo, onde, além de surpreender com seus talentos para exatas, ganhando diversas olimpíadas de ensino, aprendeu francês, inglês, italiano e latim fluentes. Teve aulas de boas maneiras, de culinária, de costura e de ballet; como a família insistia em dizer; era uma boneca, um orgulho.

E (eu acho que) continua...

P.S. Saiu tudo isso e mais um pouco no banho. kiss. x)~

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