segunda-feira, 8 de setembro de 2014

E. E nós. Nós éramos tão jovens. Completamente embebidos e afogados naquele ar inocente, infantil. Aqui se inicia o que não é nem de perto um começo. O que foi já passou. E se passou tanto desde que foi.

Quem me dera houvesse tempo para documentar tanta vida, mas viver nos ocupa tempo demais. Para quê se vive, afinal?

 Hoje o dia amanheceu ansioso e melancólico aqui no sul do país. Depois de rodar terras longínquas, fitei meu retrato cru e inchado no primeiro raio da manhã. Retornei para onde tudo começou. O que eu estou fazendo aqui?

Reparei que linhas tênues saltam discretamente em minha pele, denunciando todo o "e" vivido desde aquela época em que éramos tão jovens. Não ouso me declarar velha tampouco, mas percebo a ação indubitável do tempo, denunciando-se pelos arredores de um par de olhos amendoados e incertos. Se não o tempo, qual é a matéria prima das certezas?

A imagem do espelho me acompanhou ao longo de todo o dia e a casa vazia me aprisionou de portas abertas. Para onde eu devo ir?

O parapeito da janela me parecia o que de mais próximo havia para se chamar de liberdade. Abri os vidros e deixei que o ar gelado enrijecesse minhas bochechas e avermelhasse meu nariz. - Acho que eu não gosto de frio.

Fitei a imensidão cinzenta do céu e o ar bucólico dos fundos daquela rua tranquila e repleta de belos sobrados e pinheiros imponentes. Uma revoada de pássaros cruzou o horizonte, surgindo do ponto mais ao norte a que minha visão conseguia alcançar e sumindo pelo extremo sul. Observei que nenhum deles errava o caminho ou, quiça, demonstrava qualquer traço de hesitação. Senti inveja. Para onde eu quero ir?

Há pouco que me sentia em paz. O que tanto me atormenta agora?

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