sábado, 14 de dezembro de 2013

Era uma vez um amor

mas eu tive que matá-lo.

"Saí tropeçando ao amanhecer. Estava chovendo cântaros.Tentei abrir o guarda chuva mas lembrei que o tinha negociado a fim de amortizar minha dívida. Senti vontade de ver uma certa garota, de estar com ela debaixo de um lençol limpo numa cama seca e cheirosa. Era a única coisa que eu queria da vida, e se não fosse possível preferia morrer.

(...)

Eu gosto de correr todas as manhãs porque aplaca a tristeza. Sei quando sonho com uma certa garota mesmo que não me lembre do sonho. A sensação de ausência no peito me diz tudo. Correr ajuda, por isso tem tanta gente correndo ao amanhecer.

(...)

- A que não renunciaria?
- Meu caro, é estúpido pensar que não podemos deixar qualquer coisa. Somos feitos de renúncia.

(...)

Havia mais coisas obscuras no meu passado mas eu gostava delas ali, no fundo do buraco onde o amor por uma certa garota se negava a cair. Mamãesábia entrou no quarto com aspirinas, água e caldo de verduras. Ela podia curar qualquer ressaca mas eu queria mais, queria que o tempo voltasse e apagasse os meus passos em falso ou ao menos a estúpida noite anterior e a minha elegância perdida.

(...)

Não sei como ignorei então que ela era a melhor coisa que eu nunca teria."

Um comentário:

  1. Sim, de fato. Somos feitos de renúncia. A renúncia, me parece, é uma das poucas coisas das quais não podemos abrir mão. Somos feitos de renúncia.

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