terça-feira, 16 de julho de 2013

Olhei fundo nos olhos dela e tive força pra dizer: tu não sabes mais nem quem és ou quem eu sou. Ela balançou a cabeça. Não sei se ela concordava ou era um ato de negação, de reação, querendo me dizer que ainda estava ali.

Tentei a colocar pra dentro, ela não quis. Acendeu dois ou três cigarros seguidos em silêncio, daqueles constrangedores. Deitou-se ao meu lado já cansada de pensar e pulsar. Olhando pro nada me disse: sabe quantas vezes pensei em rasgar as jaulas e pular pra fora? Espantado não soube o que responder. Ela continuou: perdi as contas, não sei. Já nem sei mais quem eu sou. Tudo o que havia resgatado se perdeu.

Você já chegou a perder algo que havia demorado muito a resgatar?

Tentei me aproximar, como se não percebesse ela se esquivou. A beijei as mãos e pedi que ela falasse algo. Mais perdida ainda ela disse: depois da desilusão, não acredito em mais nada nem ninguém. Já não consigo amar, já não sinto. E não sentir é a pior dor que alguém contrai. Assim. Como uma doença. Eu contrai o não-sentir.

As pessoas me sugaram até a última gota. Já não sou mais eu e nem ser socorrida de mim eu quero. Mas saiba que eu sei: nem tudo acaba aqui. Ao final de longos dias eu vou acordar e querer abraçar o mundo ao qual eu terei que refazer todo de novo. Novas pessoas, que não sabem das minhas loucuras. Novos lugares, que não viram os meus vexames. Novas vontades. Novos remédios.

Pupilas do abandono - B.B.

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