sexta-feira, 20 de julho de 2012

"Senta aqui, vamos conversar bem pertinho. É, eu ando meio carente, então vem aqui e segura a minha mão. Preciso desabafar, te contar algumas angústias, aflições, dividir as coisas. pode ser? Não vou me estender muito, sei que você é ocupado. Além disso, é sexta-feira. Quem quer ouvir lamúrias em plena sexta? Eu entendo. Se fosse mais tarde, entre um gole e outro de bebida forte, a gente podia sentar na sarjeta, reclamar da vida, arrotar baixinho e comer cachorro-quente da esquina. Mas é dia. É dia e as pessoas têm pressa. Vem, não vou tomar muito do seu tempo.

(...)

Muita gente passa e vai passar pela minha vida. E pouca gente vai ficar. Quer saber? Não me sinto mal com isso, não. Tenho amigos de infância. Tenho amigos de faculdade. Tenho amigos dos tempos de escola. Tenho amigos das agências em que trabalhei. Tenho amigos virtuais. Tenho amigos no salão de beleza. Tenho amigos no meu prédio. Nossa, como eu tenho amigos, certo? Errado. Muito errado.

Eu sei, sei que é bem melhor dizer fulano-é-meu-amigo do que fulano-é-meu-conhecido. Também sei que é um saco ter que batizar tudo a toda hora. Mas amigo é amigo, conhecido é conhecido. De vez em quando a gente troca as bolas e se estrepa lá na frente. Então vamos reformular as coisas: existem algumas pessoas que você jura que são amigas. Porque você convivem muito com você. Porque te entendem. Porque conhecem todos os seus sorrisos. Porque têm intimidade com sua família. Porque já estiveram junto com você nas horas difíceis. Porque são boas companhias. Porque fazem um cosmopolitan maravilhoso. Essas pessoas podem ser conhecidas. Ou amigas de ocasião. Como assim? São aquelas pessoas que você conheceu no trabalho, na academia, pela vida afora. Gente bacana, do bem, que é legal ter perto. Gente que te diverte, te alegra. Gente que sai com você pra jantar, beber, jogar carta, assistir filme, viajar. Gente que você curte bater um papo mais cabeça, mais profundo. Gente que você conta um pouco da sua vida. Gente que você quase confia totalmente.

Quase. É porque amigo mesmo faz tudo isso. E ainda dá três pulinhos quando um sonho seu se realiza. E ainda vibra por você a cada coisa bacana que te acontece. E ainda respeita o teu espaço. E ainda entende que para ser amigo não precisa estar colado com fita dupla face. E ainda não sente a menor inveja de você.

Entendeu? Agora conte nos dedos de uma mão quem restou. Esses são amigos. O resto é conhecido. E fim de papo."

Clarissa Corrêa

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