terça-feira, 4 de outubro de 2011

Menina

"Aonde você mora, aonde você foi morar?"

É, menina. De você, eu herdei coisas poucas e irremediáveis. Herdei essa mania incorrigível de fumar com apenas um dos pés no chão. De observar o céu sem perceber se chove ou faz sol, daquele meu jeito totalmente absorto em pensamentos, emoções e desejos espremidos, queimando pouco a pouco por entre os lábios e as pontas dos dedos. É, essa é realmente uma das poucas coisas que eu herdei de você, menina.
Herdei também esse desejo insaciável e incontido por um café preto, doce, excessivamente quente e quem sabe até "meio ruim". Um café servido entre travesseiros e lençóis, com a luz invadindo o quarto pelas frestas da cortina e beijos vagarosos de um "bom dia" sem nenhuma pressa.
Mas não é nenhuma dessas heranças que me incomoda no final do dia, menina. O que me incomoda mesmo é ter herdado essa esperança insistente, invencível e quase infantil de que contos de fadas não perdem a magia depois de soar meia noite, desde que, até o dia amanhecer, o teu corpo não se desenrosque nem por um segundo do meu.

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