quarta-feira, 3 de agosto de 2011

Uma vez você me escreveu uma carta dizendo que via a nossa história como um enredo de filme: um filme com muitas reviravoltas e um final feliz. E você me entregou essa carta num dia que, por si só, parecia um filme. Assim, tipo hoje.

Eu carrego essa carta comigo. Sempre esqueço de tirar ela da bolsa, mesmo quando me lembro de que não é na bolsa que carrego cartas. É que quando lembro, lembro também de esquecer antes de ter tempo de tirar ela dali. E ela fica. Ela sempre fica.

Queria ter respondido e nunca respondi. Queria ter dito que eu vejo a mesma coisa. Teria dito que talvez não dê pra entender, e eu entendo se não der porque no final nem eu entendo bem, mas que eu sinto que até o nosso final feliz chegar, a gente tem caminhos distintos pra trilhar. Que eu não controlo o que eu sinto e que sinto que as nossas buscas nos guiarão pra direções opostas, que nosso coração vai disparar por razões diferentes e que nenhuma das duas vai precisar abrir mão disso, nem mesmo uma pela outra.

Sinto que a gente vai precisar se perder completamente pra depois se encontrar, no que eu vou chamar tortamente de "dia certo". Que a gente vai precisar se definir e entrar em contato com a unidade do universo para, então, nos encontrarmos (e que isso, de início, vai doer). Que vamos precisar perder contato, perder o endereço, perder o apego, perder a mania de dormir esperando que o dia seguinte seja esse tal "dia certo" e perder até as expectativas de que esse tal dia seja real.

E, em um dia que não vai parecer em nada com o que um "dia certo" se parece, vamos acabar nos encontrando por-acaso-sabe-lá-Deus-onde.

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Você vai estar à caminho de algum compromisso importante, no meio de um telefonema. Ela vai estar com um copo de café nas mãos. E você vai pensar: "Olha só, é tão cedo e eu aposto que ela ainda não comeu absolutamente nada. Ela e essa mania de achar que só porque não sente fome logo que acorda - e ela acabou de acordar, porque ela nunca aprende e sempre enrola até o último segundo na cama e fica com os olhos ainda menores logo que levanta, bem desse jeito - pode só tomar um café assim, totalmente preto, mesmo sabendo que vai passar o dia inteiro com a gastrite atacada."

E então você vai rir por dentro logo que perceber como foi rápido lembrar o que você julgava já ter esquecido. E vai lembrar que essa era uma das coisas que fazia você ser absolutamente louca por ela, como nunca mais foi por outra mulher desde então. - E existirão outras mulheres ótimas, outros momentos ótimos e sentimentos ótimos. Mas elas serão as outras: as outras com as quais você vai viver outros momentos e sentir outros sentimentos. E você vai se dar conta que só ela, até hoje, tinha sido "aquela", com quem você viveu "aquele" momento e que desperta "aquele" sentimento. - Vai ser alguma coisa nela. Alguma coisa que é toda dela. Talvez o jeito de mexer nos cabelos, o jeito de sorrir ou o jeito distraído de andar na rua, quase alheia a presença de todos.

E você vai tentar a chance mesmo que, durante anos, tenha alimentado a certeza de que caso esse momento chegasse, não faria diferença alguma. E vai convidá-la para um café depois desse compromisso importante. E vai perceber que, por você, seria logo um jantar - mas vai se negar a chamá-la pra jantar porque isso seria "rápido demais".

Ela vai aceitar. Atônita por perceber que aquele "dia certo" que ela deixou de acreditar que chegaria em algum lugar do caminho, e que acreditava enquanto escrevia sobre ele, havia finalmente... chegado.

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