quarta-feira, 8 de junho de 2011

Daqui até lá..

Prólogo

Eu parei na esquina e fiquei ali pensando em tudo que tinha lido nas últimas duas horas, até acabar. Tracei perfis psicológicos, analisei meu comportamento, minha personalidade, minha forma de trabalhar, soltei alguns sorrisos involuntários graças as minhas conclusões e aquilo parecia não acabar nunca. Era meio ruim, meio amargo, meio forte demais. Mas eu fiquei e terminei. Olhei pra todos os outros e pensei: que ideia infeliz. Mas vou acabar com todos, um por um. É como provar pra mim, mais uma vez, que mesmo que seja meio ruim, meio amargo, meio infeliz, meio seja-lá-o-que-for, eu consigo ir até o final. Esgotar tudo. Consigo sim, e vou, pode apostar.

Ato I

Eles viviam dizendo que era pra sempre e acreditavam nisso. Dava pra ver que acreditavam. Eles acreditavam tanto que me fizeram acreditar também. Qual era o ponto de estarem juntos se não acreditassem, afinal? Já tinham passado da idade de namoros casuais, ou, achavam que sim. Sempre achei ela bonita demais pra ele e sempre achei ele gente boa demais pra ela. Mas eles, juntos, davam um belo casal.
Eu os imaginava comprando um apê razoavelmente perto do centro (e perto demais da casa da mãe dela), um gato (porque ela detesta cachorros) e discutindo sobre ser muito cedo, ou não, pra ter um filho. Tenho certeza que ela falaria sobre a probabilidade que geneticamente ela tem de engravidar de gêmeos e de como isso seria ainda mais complicado pra vida "subúrbio classe C" que eles levariam a partir de então.
Bom, agora ele está com uma garota ainda mais bonita e me procura de vez em quando pra contar como vai a vida. Pelo que ele conta, essa nova garota tem um belo senso de humor.
Ela parou do meu lado no ponto de ônibus ontem e nem me cumprimentou. Tô acostumada. Ela nunca o faz. Agora ela tá com outro cara, com direito a uma aliança grandona naqueles dedos miúdos. Mesma história: de novo eu definitivamente acho ela bonita demais pra ele. Mas, gosto é gosto e não se discute, né?

Ato II

Ele já estava parado ali quando eu cheguei. Bermuda fuleira, tênis gringo e uma tatuagem de cadeia com algum nome de mulher ilegível no braço direito. Não fiquei reparando, juro. Do nada ele sumiu, em seguida voltou. Ficou reparando no moleque que corria do outro lado da rua com uma sacola nas mãos e atravessou a rua correndo em direção a padaria. Tinha trânsito e ele atrapalhou. Todo mundo olhou. Ficou tudo meio tenso. A padaria já foi assaltada antes. Ele ia perder o ônibus depois de esperar tanto tempo? Deu uns 2 minutos e ele voltou. Abriu um Trident e começou a mastigar. Eu ri. É que eu tive a mesma ideia no dia anterior.

Ato III

Eu amo comer Trident no frio. É muito melhor do que no calor. Quando tá quente, fica tudo mole e melequento, nem parece que o Trident é novo. No frio, parece que a goma vai se desmanchar na boca. Ela vai "quebrando" em vários pedaços a medida que você começa a mastigar e, só então, passa a se unir de novo e virar um Trident mole e melequento, igualzinho aquele do verão.

Ato IV

É tanta gente apertada no mesmo lugar. Espirros pra cá, tosse pra lá, cada um se segurando como pode. Mal característico de hora do rush no inverno. Se se distrair muito, capaz de tropeçar no desconhecido do seu lado. Acho que preciso tomar vergonha na cara e botar meu MP4 pra carregar. Faz uma falta danada. Distrai meus pensamentos e silencia um pouquinho essa voz tagarela que narra cada acontecimento e cada pensamento que surge dentro de mim. Se não silencia, pelo menos faz ela cantar. Enfim. Fiquei me perguntando qual era a história daquelas pessoas. Será que dava pra escrever cada uma delas em mais ou menos uma página? (Só pra tornar a obra viável..)

Ato V

Desde quando Blumenau tem vento? Hey, eu moro em um buraco. Des-de-qua-ndo-Blumenau-tem-vento? Meu sobretudo vermelho de lã escovada, aquele pesadíssimo, dançava e laçava as minhas pernas. Minha sombrinha de camelô, fajuta mas xadrez com estilo simpático, ameaçava constantemente de virar do avesso. Até parei um pouco no meio do caminho só pra ter certeza que aquele assobio não tava rolando graças a minha velocidade de quase corrida. O frio faz dessas. Mas não. O assobio continuou por mais uns 3 segundos e depois silenciou por alguns instantes mesmo comigo ali, pateticamente parada no meio da rua vazia, fria, chuvosa e escura. Dei um sorriso involuntário, balancei a cabeça e continuei andando. Precisava de um banho, não era o que eu podia chamar de um bom dia. O assobio continuou e eu lembrei do Minuano, tradicional dos lados de lá. Me bateu uma saudade de tudo e de todos, mas eu continuei andando até chegar.

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