terça-feira, 21 de junho de 2011

At night

Estávamos lá: nós cinco e as centenas de pessoas que, pra mim, não eram ninguém. Eu já me preparava a dias e, devo dizer, com uma precisão milimetricamente calculada para convencer que aquilo era absolutamente irrelevante em todos os aspectos que me diziam respeito. Parte do show.

Os quilos de maquiagem estrategicamente distribuídos pelo rosto disfarçavam minhas olheiras, escondiam os efeitos do stress visivelmente estampados na pele crua e ressaltavam meus olhos de mar revolto e ressacado.

Minha postura fora longamente ensaiada em frente ao espelho e meu estilo casual e despojado, daqueles com um quê de “por acaso”, havia sido cuidadosamente testado horas antes. Tudo parte do show.

Olhei lenta e discretamente para cada uma delas, deixando que nossos olhos se cruzassem, um a um. Desviei o olhar e dei um sorriso malicioso de quem conhece muito bem o prazer de brincar com o fogo. Continuei bebendo Martini, observando a posição elegante dos meus dedos finos e o reflexo turvo das minhas unhas pintadas de vermelho no cristal da taça, que embaçava rapidamente com a temperatura da minha respiração. A música, pouco a pouco, dominava meus sentidos. Tudo parte do show. Fechei os olhos. Aquele, especificamente, era todo meu.

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