segunda-feira, 28 de março de 2011

Another letter to you

Agora seria uma boa hora pra você levantar da cadeira e andar até a caixa de correio da sua casa. (A sua casa tem uma caixa de correio? Nunca reparei.) Você chegaria até o pátio de chinelo, cabelo desgrenhado e cara amassada e olharia pra cima, sem parar de andar - aqueles passos meio desajeitados de quem não olha por onde pisa e fica com receio de ir longe demais, ou pra direita demais, e dar de cara na parede.
Antes de sair da área externa que ainda é coberta pelo telhado, você daria uma espiada no céu cinzento apertando um pouco os olhos por causa da claridade que ficaria excessiva quando você olhasse pra cima, e pensaria: é, daqui a pouco vai chover.
Eu não mandei carta nenhuma. Com essa tal modernidade, o hábito de mandar cartas virou meio vintage. Artigo de boutique, roupa de brechó, agradinho clássico.. enfim.
Mas, como agora seria uma boa hora pra você levantar da cadeira e andar até a caixa de correio, quero que você sinta como se estivesse com uma carta nas mãos. Um daqueles envelopes endereçados especialmente pra você, com o seu nome escrito em caneta azul com uma letra meio trêmula, esquisita e borrada na parte da frente. Tudo bem, você nem liga pra letra, o importante é que seja sincero e que tenha o seu nome..

"Oi, linda..
Eu li o que você postou no seu tumblr, logo abaixo daquela foto do pôr do sol com filtro cor de rosa que você lembra tão bem quanto eu (apesar da sua constante perda de memória).

Nessa carta que não escrevi, mesmo que eu soasse meio atravessada, diria que eu também noto. Noto que, por alguma razão, aquele teu sorriso que sorria e se escancarava tão naturalmente que chega a escandalizar, anda escondido. Anda escondido faz tempo, mais tempo do que eu gostaria de admitir.

Não que eu ache que eu não te fazia bem, mas já não te sentia realmente feliz com a vida. Não te via mais rindo com a alma, com os olhos, com o coração e com o fígado. Não te via rindo de nada, do que não tem a mínima graça, como antes eu via. E não, não to me culpando. Por mais que eu quisesse que sim, eu não tenho como te fazer feliz. E não que eu seja incompetente, e não pelos meus defeitos. É que eu não tenho e ninguém mais além de você tem como te fazer feliz.

Felicidade de verdade vem de dentro, não de fora. Vem da gente, não de outra pessoa. Sabe como é, sol na pele queima, sol dentro dos olhos brilha, ilumina. E eu sei que te fiz bem. Que te dei força, que fiquei do teu lado sempre que minhas limitações permitiram e que sempre quis com toda a força do mundo te ver feliz. Eu sei tudo que aprendi contigo e tudo que te ensinei e sei que se você me ama, é porque eu te fiz bem. Assim como você me fez (e me faz) um bem imenso. E, se agi como agi, foi justamente pra não ser injusta contigo. Pra que eu seja justa comigo e contigo e possa te fazer o máximo de bem que tenho como nesse momento, mesmo que isso seja quase nada.

Sei que tens todos os motivos do mundo pra sentir raiva de mim e queria te dizer que me dá um alívio monstro saber que não sentes. Mas, se te fizer bem sentir, vai me aliviar saber que sentes. Ah, e também queria dizer que tudo que escrevi aqui não quer dizer que vou me afastar; é só pra te lembrar e dizer que eu to aqui, esperando ansiosa pra te ver feliz.

Eu lembro daquela tua vivacidade de quem é feliz mesmo sem motivos, ou, sem motivo nenhum em especial. Aquela de quem faz piada e acha graça do que não tem graça nenhuma e que deu lugar a um ar meio cansado, meio triste. A um ar de quem se deixa levar, meio sem caminho, meio sem motivo, meio sem esperança e sem propósito. De quem se julga meio sozinha, meio inferior, e olha pra baixo sem prestar muita atenção em quem tá do lado pra te abraçar se tu precisares. Um ar de quem se vê meio turvo, meio confuso, meio sem força. De quem sente que tem andado em círculos, que enxerga tudo com um olhar meio atônito e que vê o mundo meio preto e branco. Eu sei que as cores não são muito intensas em dias nublados, mas com um pouco de esforço, eu te juro que dá pra perceber que elas continuam ali.

Cadê aquele brilho de "menina boba feliz" que brilhava mesmo que você estivesse machucada naquela época em que eu te conheci? E que brilhava quando eu te reencontrei, ainda que machucada mais uma vez? Confesso que me pergunto isso em silêncio a tempos. Eu e a minha mania de não conversar com você, né? Talvez não tenha te dito por medo de acabar descobrindo que uma das responsáveis por esse olhar assim, não mais tão feliz, não tão bobo, não tão colorido, era eu.

Sabe, não há nada de errado em mudar, muito pelo contrário. Mas será que você notou que aquele sorriso quente se escondeu em algum lugar aí dentro de você? Não deixa que ele se esconda, nem por mim, nem por nada e nem por ninguém. Sair, eu te garanto que ele não saiu. Garanto que ele não é como um daqueles gatos que esperam uma brecha e fogem pela janela pra não voltar mais. Ele tá aí. E não importa quanto te machucaram, quanto a vida foi dura ou o quanto as coisas não aconteceram como você gostaria que elas tivessem acontecido, ele tá aí.

E, linda, independente do que há de vir, do que hoje dói e de como as coisas vão se ajeitar, eu espero com todas as minhas forças que tenha chegado a hora certa de você encontrar com ele de novo e sorrir ele de novo,. Que tenha chegado a hora de sorrir por tudo que tem valor, por ter consciência de que a tua felicidade tá e sempre esteve nas tuas mãos, que não vais estar sozinha em momento nenhum nesse barco e/ou simplesmente porque é o teu sorriso que traduz a essência daquela pessoa que eu conheci. Porque sabe, o incerto não pertence a gente. Não pertence a mim e nem a ti (por mais que eu quisesse o contrário). Mas teu sorriso, esse sim é todo teu. E faz falta. Teu brilho faz falta, não tens ideia do quanto.

E sei que não sou a pessoa certa pra dizer tudo isso agora. Porque ao invés de te fazer sorrir, eu te fiz chorar. Talvez a essas alturas tenha feito de novo. Mas, se eu digo mesmo assim, é porque aquele teu sorriso, aquele de verdade, não depende de mim; esse depende de você. Pra onde aí dentro de você ele foi, linda? Descobre, por favor."

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