terça-feira, 6 de abril de 2010

A música, pra variar alta demais, fazia vibrar toda a estrutura. Vibrava o chão, as paredes, o palco e o coração. Vibrava ocilante, abafado e mudo. Era sempre assim. Uma lá, a outra aqui, a música alta demais e o coração vibrando, abafado pelo desconforto do não ser absolutamente nada, nem mesmo esquecido.

(...)

Aquilo parecia mais com um mar de gente. De cima, eu via apenas pontinhos coloridos que se moviam entre lentamente com o fluxo e corajosamente no contra-fluxo da multidão.
Terminei a minha tentativa falha de secar os cabelos com a toalha e joguei-a no chão do banheiro. Calçei os chinelos mais confortáveis que encontrei dentre minhas poucas opções, respirei fundo e desci 11 andares, ou algo assim.
Foi como me perder em um mar de nada. Meu rumo era alguma coisa meio incerta e o meu interesse insistia em não ouvir a história que me estava sendo contada pelas bocas ao lado; estava difícil não ser pisoteada.
Era óbvio que aconteceria. Quais eram as nossas chances de não cruzarmos entre um milhão e meio de pessoas, afinal? E mais uma vez, as minhas pernas vibravam. Já não mais pelo volume da música, mas de medo, de raiva e de mágoa; a mágoa de sentir tanto e não ser ninguém.

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