quinta-feira, 18 de fevereiro de 2010

Meus olhos, que de tão amargos soavam doces e dissimulados, fugiam da realidade e permitiam que a maresia daquele lugar embalasse a falta de propósito de mais uma daquelas noites vazias e doloridas de quem sabe que, quando se está perdido, qualquer direção vira caminho - já que, deveras, não há caminho algum.

Doía. O meu mundo era chuvoso e frio no auge do verão aqui do sul. Era tudo vão e vazio: repleto de "nada".

O teu mundo, que por um empréstimo casual se fez meu no instante em que senti a tua boca tocando a minha, me roubou o vazio interior sem pedir licença.

Ali, tão longe de tudo o que na minha vida era sufocantemente real, o teu beijo me fez sentir plena de tudo. Não pensava mais no "nada", que de "tudo", naquele momento fora rebaixado a "resto".

Já era tarde e a tua presença, por alguma razão, fazia sentido em uma daquelas noites em que nada mais faria - e foi por isso que eu te pedi pra ficar um pouco mais.

Tuas palavras produziam eco e a tua voz preenchia as rachaduras do que em mim era quebrado. Acho que foi por isso que te fiz falar até perder a noção do tempo e, quando recobrei os sentidos, percebi que sorria enquanto te observava. Tenho a impressão de que eu faço isso até hoje.

Naquele dia eu não tinha com o que me importar - e, se tinha, eu não me importava - mas me importei em te pentelhar pra que você não dormisse - sem te contar que era eu quem não queria pegar no sono de jeito nenhum.

Quando o cansaço por fim me venceu, acabei dormindo em paz.

Hoje eu sei que se fosse para explicar como aconteceu, eu diria que gostei de você no instante em que te vi pela primeira vez...


P.S. Uma daquelas madrugadas sem sono.

Nenhum comentário:

Postar um comentário