quinta-feira, 20 de agosto de 2009

Eu queria mandar um email gigantesco. Queria contar que eu resolvi alargar a minha orelha, que a ansiedade anda me fazendo roer as unhas e que eu não tenho mais vontade de pintar elas de vermelho ultimamente. Eu falaria que não faço a mínima ideia do que fazer com o meu cabelo dessa vez, que meu piercieng do nariz tá inflamado e que ando com um ou dois projetos novos. Sobre esses eu escreveria umonte.
Diria que nos últimos tempos eu aprendi uma lição nova e agora vejo muita coisa com os meus velhos novos olhos. Acho que nessas alturas já estaria amanhecendo e eu diria que tenho que dormir porque amanhã eu preciso continuar o trabalho que eu comecei agora a noite. Depois disso eu lembraria que preciso urgente te contar que to fazendo aula de roteiro de videoclipe, que precisei escrever uma história sobre um tema macabro e que fiquei de cara com como a minha história ficou boa. Teria a brilhante ideia de anexar a tal da história no email, te fazer ler ela inteirinha e opinar. Eu conseguiria com aquela facilidade de convencer que dois mais dois dá cinco.
Ia reclamar sobre o tempo que não nos falamos e explicar como um vazio inexplicável e irremediável apareceu por aqui graças a isso. Não ia me demorar reclamando, não muito. Reclamaria só até lembrar que compus uma música nova e queria te mostrar pra ontem. Depois eu ia pedir pra você gravar ela comigo, quantas vezes eu achasse necessário até que ficasse bom, porque eu sei que você não iria se importar de perder uma tarde ou uma madrugada ou uma tarde e uma madrugada com isso pra me deixar com cara de criança feliz.
Eu ia te mandar os sons que eu to escutando nos últimos tempos e daí faria uma observação sobre a capacidade incrível que eu tenho de anexar um milhão de coisas diferentes em um email só. Eu iria me despedir dizendo que eu sinto muito a tua falta e que, se eu pudesse escolher, as coisas estariam bem diferentes do que estão. Diria que eu te amo muuuito e sempre sempre vou te amar. Diria que eu to aqui e que, bom, eu repetiria que eu te amo. Mandaria um beijo, diria que to com saudade e que não tem problema se as coisas não voltarem ao "normal" porque eu posso me acostumar com as coisas diferentes. Afinal, a gente nunca serviu pra normal mesmo. Eu diria que isso me dá medo sim e que eu sei que você entende. Diria que tem umonte de coisas que eu queria que você entendesse, ainda que eu não saiba como me fazer entender. Daí eu te lembraria que, ainda assim, você é a pessoa que, de loooonge, já me entendeu maais na face da terra.
Se eu me conheço bem, enrolaria infinito na parte anterior e demoraria séculos. Pensaria em revisar o texto mas não o faria. Certeza que se eu fosse revisar, eu não mandaria. Vasculharia a cabeça, encontraria mais uma vida de coisas pra te contar, falaria sobre o meu almoço, minha faculdade e sobre como já faz quase uma semaaaana que eu to numa vibe mais tranquila. Ia te contar que isso tá me ajudando a descansar. Ia falar que tenho sonhado umas piras malucas e sem nexo mas não ia conseguir lembrar de nenhuma pra exemplificar. Os sonhos ocupariam pelo menos uns dois parágrafos porque eu amo falar sobre isso.
Acho que depois disso eu te contaria a conversa que tive com a minha mãe esses dias e o que tá acontecendo aqui em casa. Te falaria sobre a minha prima e sobre as coisas que eu to me sentindo na obrigação de fazer. Lembraria dos dois trabalhos monstros que vou ter que fazer pra faculdade e te pediria algumas sugestões. Isso me faria lembrar - mais uma vez - que eu preciso dormir. Eu analisaria o tamanho do email e chegaria a conclusão de que já tá um bagulho monstro e que tu vai ter trabalho pra arrumar tempo e empenho de ler tudo isso. Sentiria dó de você quanto te imaginasse respondendo tudo isso e mais dó ainda quando imaginasse você arrumando tempo pra isso - também. Óbvio que tu sabe que eu ignoraria isso e, logo que acordasse amanhã, eu correria pra caixa de entrada pra ver se você já tinha me respondido. Eu finalmente diria que meus olhos tão ardendo de sono mas que ainda assim to com vontade de comer alguma coisa e tomar um chá. Claro que a minha preguiça não vai me permitir.
Faria uma observação sobre aquela mania estranha de mandar emails como se eu tivesse falando com você naquele exato momento, rebatendo as tuas respostas e contracenando com as tuas reações. Falaria sobre a nostalgia que volta e meia eu sinto quando lembro das conversas bizarras que a gente tinha de madrugada na internet e de como eu jurava que Gaspar era longe. Diria que não consigo entender como você consegue gostar de mim com esse jeito de Brunna tão transparente e escancarado que tu é uma das únicas pessoas que conhece, só porque eu sei direitinho o que você responderia sobre isso - isso se respondesse tudo de novo ao invés de dizer que eu já to cansada de saber como e porque você consegue. Diria que deve dar muito trabalho me aguentar assim mas diria que a culpa é toda tua; quem mandou, né? Daria uma risada gigante e cheia de h's, u's, a's e s's porque eu estaria me deliciando com a plena consciência de que é porque você se importa e genuinamente gosta exatamente disso - uma vez que tem louco pra tudo -.
Tudo isso seria super natural e, logo que eu terminasse o email e clicasse em Enviar, baixaria a tela do notebook e dormiria sem perceber o quão especial tudo isso é e quantas pessoas matariam pra ter justamente.. isso. Seria bem assim, eu nem perguntaria como vai você porque eu saberia que tu sabe que cada fato, caso e acaso que eu relataria ali seria uma intimação pra que tu fizesse o mesmo; porque não era um "eu quero saber", era mais pra "eu preciso saber porque eu sei que tu precisa falar e é só assim que as coisas fazem amplo sentido pra nós duas", era mais pra um "pode falar de tudo, bem assim, porque a tua vida é uma parte da minha e então lidar com a sua vida é lidar com a minha própria", era mais pra um "fala tudo, talvez mais por mim do que por você".
Bom, eu relembraria dos anexos, desejaria boa noite, seguida de bom dia, diria que já enrolei demais e me despediria mais uma vez, enrolada, como sempre.

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