segunda-feira, 5 de maio de 2008

"Quantas vezes assassinei o amor?

Morreu envenenado pela angústia.
Morreu enforcado pelo abraço.
Morreu esfaqueado pelas costas.
Morreu eletrocutado pela sinceridade.
Morreu atropelado pela grosseria.
Morreu sufocado pela desavença.

Mortes patéticas, cruéis, sem obituário e missa de sétimo dia.
Mortes sem sangramento.

Morreu com um beijo dado sem ênfase.
Um dia morno.
Uma indiferença.
Uma conversa surda.

Morre porque queremos que morra.
Decidimos que ele está morto.
Facilitamos seu estremecimento.
O amor não poderia morrer, ele não tem fim.
Nós que criamos a despedida por não suportar sua longevidade.
Por invejar que ele seja maior do que a nossa vida.

O fim do amor não será suicídio.
O amor é sempre homicídio.
A boca estará estranhamente carregada.

Permiti que o amor morresse.
Eu o vi indo para o mar de noite e não socorri.
Eu vi que ele poderia escorregar dos andares da memória e não apressei o corrimão.
Não avisei o amor no primeiro sinal de fraqueza.
No primeiro acidente.
Aceitei que desmoronasse, não levantei as ruínas sobre o passado.
Fui orgulhoso e não me arrependi.
Meu orgulho não salvou ninguém.
O orgulho não salva, o orgulho coleciona mortos.
No mínimo, merecia ser incriminado por omissão."

Autor desconhecido.

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